De «Cenas de uma vida conjugal»

Não nos atropelamos ou matamos por acaso.
Vejo com surpresa como ainda lhe é bondoso
o meu passar estreito, de ironias mansas lhe
é feito o meio sorriso e assim me devolve o
silêncio por cada porta que atravessamos.
Andamos de passos contados. Melhor,
sigo-a eu, recomeçando com vagar o
penúltimo copo, atónito ao espelho.
Reconheço-a, mas só ao ponto de
perceber o seu modo abandonado de mim,
manchado de feminino. É isso que gasta.
Acho-me imenso de movimentos, como
uma corda desfiada num chão de poeira.