Nota matinal sobre Michael Moore in Trumpland

 

Embora Michael Moore seja realmente bom a escolher títulos cativantes para os seus documentários, não parece possível evitar um certo desapontamento depois de ir para além dos títulos. Os seus filmes carecem sempre de alguma substância e até de sentido crítico. A voz de Michael Moore é omnipresente mas falar imenso não é o mesmo que ter pensamento crítico. Abundam os lugares-comuns e a ligeireza ou superficialidade. Ao contrário de outros documentaristas, Moore não se inibe de dar opiniões e não deixa as imagens e os participantes dos seus filmes falarem por si. E assim, como foi publicitado pelo próprio, Michael Moore in Trumpland não é um documentário, nem uma peça sobre Donald Trump, sobre os apoiantes de Trump, sobre Hillary Clinton ou sobre as eleições americanas. Não. Este filme é centrado na figura de Moore. Moore discursa para uma plateia de apoiantes de Trump, elogia as qualidades e critica os defeitos dos candidatos às eleições e faz o que faz melhor, provoca. E provocar é tão bom quando se quer chegar a algum lado. Mas Moore nem sempre quer chegar a algum lado. Ouve-se a sua voz, o seu sarcasmo, até as suas reflexões sobre a Estónia, durante hora e meia. É com um coração cheio de tristeza que se conclui que Michael Moore perdeu a oportunidade para descrever um fascinante fenómeno sociológico que poderia ser chamado de trumpismo.