Em louvor de W1A

Talvez deva começar por falar da linguagem. E este breve texto é um exercício de encontrar o louvor mais adequado. De como a linguagem é compartimentada, reduzida ao mínimo funcional, consolidada e ágil. A paródia da cultura corporativa começa na adopção da linguagem corporativa. O macaquear solene: “No, yes, of course”, “Brilliant!”, “Bollocks!”.

É brilhante a maneira como representa a ritualização da vida. De novo, linguagem é central: as mesmas palavras são ditas até deixarem de ter significado. Eis o civilizado homem ocidental, trabalha num escritório que é uma maravilha arquitectónica situada numa das localidades mais caras do mundo (W1A é um código postal), chega numa bicicleta de titânio desmontável, veste bem, é inteligente e bom, e passa os seus dias a repetir gestos inúteis. E a série seria boa se fosse só isto, mas é elevada pelo esforço trágico de salvar o sentido da repetição. O homem ocidental tem consciência da estupidez das palavras que repete. Hesita, questiona-se, procura redenção. E fracassa, claro, repetidamente, para nosso divertimento. Se a redenção é possível, ou que forma tomará, não é claro. Esperemos pela quarta temporada.

Seria criminoso terminar esta nota sem mencionar os actores. São geniais. Nunca o niilismo corporativo foi ao mesmo tempo tão assustador e engraçado como na personagem de Jessica Hynes. A narração de David Tennant subverte brilhantemente o registo proper da BBC. Uma hora a assistir a Hugh Bonneville a realizar tarefas domésticas seria uma hora bem passada.

O melhor louvor que me ocorre é que poucas séries me fizeram rir tanto como W1A. Desde The thick of it que não via algo tão engraçado.