No entanto...

No entanto, as coisas não são assim tão simples. As promessas velozes varrem o planeta, sentimentos etéreos galopam na rede, beijos e abraços inconclusos incluídos, uma grande envergadura de sorrisos e excertos de poemas levam a nossa icárica curiosidade até bem perto do céu, destruição garantida, a saudade prejudica seriamente a saúde, tempus fugit, também para ti, meu caro, também para ti, o meu sofrimento é verde, verde vivo, e o teu tem as cores castigadas pelo incomparável revés, a vida é tudo isto (e tudo aquilo), temos demasiados amigos e um coração do tamanho de um punho fechado pela suspeita, cerca de 750 centímetros cúbicos de esmero, realce e burocracia; temos Copacabana e Martigny, não te esqueças, e fome de Vietname e os pulmões enchem-se de ar quente só para podermos sobrevoar a Capadócia das sextas-feiras, enquanto a vida decorre em classe turística, entre cafés, semáforos, serviços e cerimónias do chá e valsas do adeus e o auto-retrato de Tintoretto ao espelho quase todos os dias, depois de Marte e Vénus terem sido surpreendidos pela inominável ressaca do além, e o dia apresentar sintomas de inanição e a noite continuar à custa de muito engenho que o amor já não busca autonomamente, até porque que as esperanças não no-las deram, e Kafka é que tinha razão, e o Ronaldo também, uma vez que os anjos e os árbitros desapareceram por completo da face da Terra, ainda que se avistem alguns, de quando em vez, no calor ocasional do facebook e nos sonhos soterrados dos isentos.