dentro de cada máquina escorre o sangue dos empregados

 Ernesto von Artixzffski, aka Sergio Maciel

 

dentro de cada máquina escorre o sangue dos empregados.
dentro de cada máquina escorre o sangue das empregadas, das mulheres e das fêmeas.
dentro de cada máquina, escorre o sêmen dos machos.
dentro de cada máquina. 

dentro de cada máquina há uma infinidade de pedras. 
dentro de cada máquina, há o choro das lâminas. 
dentro de cada máquina há o arrepio e o arrependimento. 
sempre dentro de cada máquina. 

dentro de cada máquina há ruas sem saída. 
dentro de cada máquina, há o cheiro dos mendigos. 
dentro de cada máquina, cai a neve esperada. 
dentro de cada máquina nunca nascerá nenhuma flor. 
dentro de cada máquina. 

dentro de cada máquina não cabe a lua. 
dentro de cada máquina, há divisões, cimento e dormitórios. 
dentro de cada máquina há sempre sirenes. 
dentro de cada máquina, cabe a noite e o peito devorado. 

dentro de cada máquina, o ar é fumaça. 
dentro de cada máquina, moribundos dormem sobre a ponta dos alfinetes.
dentro de cada máquina o banquete não sacia a fome de tantas bocas.
dentro de cada máquina não se faz sexo. 

dentro de cada máquina sempre haverá uma navalha para cada carne. 
dentro de cada máquina não existe a lembrança das coisas. 
dentro de cada máquina, há o pó, a pólvora e o fumo. 
dentro de cada máquina, sempre dentro de cada máquina, 
há insetos decrépitos, agrupados, abandonados e sós. 

mas apenas dentro de cada máquina.