Sexta Conjugação, 6

Não sabiam sequer que navegavam
por mais mar que houvesse.
Para eles a água não tinha terra
como quando aprenderam a ter sonhos
e a calar o que aprenderam.
Numa parte deles nasceram âncoras
que os fizeram por pouco tempo pescadores,
chamando redes à sua prisão de cais.
Outros foram morrendo afogados
à procura de terem de respirar.
Outrora não havia rios nem ventos
e os vulcões faziam falésias no gelo,
e os roncos dos meninos adormecidos
mimavam as luas que se formavam.
O tempo de uma esquisita chuva
que se vertia como um pássaro
e sibilava como uma áspide.
Tomavam o seu veneno de madrugada -
se soubessem onde estava o norte -
e já quase doentes comiam o que havia.
Quem nasceria primeiro, que ruína
faria templos na memória deles?
De quem há eco só a poesia
guarda o pouco que se perdeu,
aquele nada de milhões de pensamentos
que faz uma espécie ter música
e nascer para navegar.