no princípio era o verbo

no princípio era o verbo
breathe it in and breathe it out
todos os distritos em alerta amarelo
e os teus joelhos eram a minha casa
esse era o tempo em que o teu cabelo
fixava o ralo do chuveiro
e eu reclamava        a mãe não pode ver cabelos no ralo

no princípio era o medo
de amar-te por inteiro
sem esquecer-te na metade
todas as manhãs esperava-te à janela
e repetia, como te quero mais
cedo entendi que o medo por prisão
era a certeza dos nossos flancos
tu sabias como me convencer
e trazias sempre um livro para dois
quantos poemas te escrevi
uma tarde, recordo-me agora, perguntaste
se a minha poesia mudaria o mundo
é claro que não

no princípio era a poesia
em cada casaco achava um isqueiro teu
em cada café o teu sabor
num maço de marlboro os dias mais ásperos.