Todas as cidades são mulheres

Todas as cidades são mulheres
Todas as mulheres irão ser cidades
Quero é saber do chapéu de fazenda
da mais antiga varina de Lisboa
e se ela ainda pensa em sardinhas
no canto mais escuro dos Prazeres
Há quem diga que está no ventre duma baleia
que acabou com o passado e o ofício
em que ainda os pés descalços
tinham mais poesia que os corações
Todas as palavras são sardinhas afogadas
varinas antigas de beleza ritual
a soprar a barriga dos peixes mais feios
para transformar a morte em alimento.