Dobrada fria, um poema de Gastão Cruz

In Memoriam (1941-2022)

Num restaurante fora do espaço e do
tempo
onde a um poeta, irreal também, serviram

dobrada fria ficaremos até
a nossa imagem do mundo se turvar
aí petrificada

estará
a substância do tempo a que daremos
o nome de passado

porém não há passado
fora do tempo só existe a vida
uma luz imortal que o tempo mata

De Existência, Assírio & Alvim, Lisboa, 2017