"Pictures from Knopfli's airport" de Larry Sultan

para a Tatiana,
que conhece as margens do exílio

Não querias lembrar-te de nada,
além da soma de dois exactos impossíveis:
este nada que se recorda.
Nenhum futuro, nenhum passado
subsiste, além deste equívoco. E o presente
prende-nos como se fôssemos um assento 
perpétuo e infranqueável

num cinematógrafo.

Os nossos olhos, dentro de nós, abrem-se
como uma tela, revelando-nos a derrota
na sua mais plácida brancura.

Em vinte versos, dizem-me, escreveste a tua despedida.
Mas por muito mais de vinte anos lembraste
o teu rosto menino, o perfil 
dessa cidade.
Ainda aqui estás. Ouve-me. Leio-te, Rui,
sentado no terminal 1 de Madrid. E em vinte versos
invento um livro: voltas, abraças Kok Nam. 

Sultan apanha-vos.

E eu teimo acrescentar um 21.º verso,
em que vos crio a alegria e a saudade: de novo