Posfácio

Apaixonei-me por um livreiro 
que me dá livros e me tira a roupa, 
que me guia pelo esqueleto do livro  
mostrando a importância do tamanho  
das palavras escritas 
sobre o papel opaco e pesado 
entre os dedos que se molham  
antes de virar páginas. 

Mas. 

Num dos dedos já secos 
abriu-se a fenda invisível de um corte de papel, 
esse sítio onde ainda me mantém. 
O pó cobre agora  
os espaços vazios das estantes, 
dentes arrancados de uma boca torta 
e as roupas ainda mornas  
jazem sobre o colchão 
onde uma mancha esbranquiçada 
é mutante quando vista  
aos olhos dos amantes: 
do meu lado da cama é vírgula, 
do dele, 
ponto final.