Nietzsche e a inspiração

Recuperando linhas de pensamento neo-românticas, Nietzsche apresenta em Ecce Homo, “Also sprach Zarathustra” §3, a inspiração como a revelação que torna fulgurantemente algo visível ou audível. Sacode o sujeito no seu centro de gravidade, desarranja-o e fá-lo sofrer, mas ao mesmo tempo sopra uma felicidade extasiante. Esta experiência deve ser aceite sem questionar a origem, acolhê-la como um “clarão” (Blitz), sem análises, e abraçá-la como uma dádiva. A inspiração acontece no mais alto grau do involuntário, numa tormenta do sentimento de liberdade, de incondicionalidade, de poder, de divindade (“Alles geschieht im höchsten Grade unfreiwillig, aber wie in einem Sturme von Freiheits-Gefühl, von Unbedingtsein, von Macht, von Göttlichkeit...”). Resumindo, um clarão grávido de verdades que abalam e elevam fulmina um passageiro que ou abate ou imortaliza. Foi desta forma que, por exemplo, Nietzsche sentiu, em puro arrebatamento, a emergência do pensamento do Eterno Retorno do Mesmo.