György e Martá Kurtág tocam uma transcrição de Bach a quatro mãos

Parece que só quatro, as nossas mãos
mas não é por isso que
as pomos no fogo

Podemos olhá-las com vagar
estão connosco há tanto tempo
às vezes as minhas pousadas nas
tuas, e entre si trocando
um sereno esquecimento

Não são ilusões de óptica
avançam apenas diferentes, umas
com as outras, e mesmo por baixo
aquelas que ao longe escrevem
e agora nos  afagam
ou incendeiam os dedos

Ainda um pouco as consentimos
assim distraídas a inventar
o que afinal conhecíamos

Eis um facto, precisamos
de virar as folhas, uma a uma
enquanto a mão do vento
bate nas paredes

Curvados para a terra
não temos, nem queremos
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