2 poemas de Pentti Saarikoski

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amo-te

como um país estrangeiro

                penhascos e ponte

como uma noite solitária que cheira a livros

         caminho até ti no mundo

    sob a atmosfera

entre duas luzes

o meu pensamento que é esculpido e tu.

 

 

 

está um belo dia

mulher com olhos dourados

e vento que anuncia a primavera à humanidade

 

sob as pálpebras um lugar fresco

o vento sopra através

da retina dourada

 

as maçãs crescem grandes

crianças atiram-nas contra a árvore

depois de Setembro vem Maio pela segunda vez neste ano.

 

 

Pentti Saarikosko, Mitä Tapahtuu Todella? (1962)

 

 Traduzido do finlandês por João Bosco da Silva

Bo Carpelan

No Amanhecer de Junho

 

Cedo no amanhecer de Junho ele remou,

bem vestido, estrangulado por uma gravata, calças arregaçadas,

sobre a calma baía, voltando-se, olha para trás;

lá estava a ilha, lá dormiam sua mulher e criança,

árvores, lá repousavam os ventos,

a primeira brisa da manhã veio e quebrou

o espelho da água.

 

Canções simples

 

Canções simples, claras como a manhã –

quantas vidas e pensamentos afundaram

para que estes pudesses ascender,

erva, flores, dias, passagens.

 

A erva silenciosa

 

O coração não concorda com os seus limites,

nem o poema com a realidade,

nem a realidade com o sonho de Deus.

Que tipo de diálogo é o que te transforma

mesmo que não te altere?

Não procures na erva silenciosa,

procura a erva silenciosa.

 

Padrão quebrado

 

Onde estiveste, tu que bem conheci?

— Na escuridão,

vaga, enlouquecida.

Lá vai um que se transformará

e como cães

os ventos correm pelos seus membros.

Tu és como ele. De ti nada posso

esperar

além do sofrimento que é felicidade consumida

e na escuridão extrema

felicidade que é sofrimento consumido

quebrando o padrão.

 

Manhã, noite

 

Fresca repousa a erva,

é manhã, noite

na tua vida.

Perto dos teus caminhos

vai-se o último dia

escondido talvez na folhagem das arvores

ou em cidades silenciosas

onde o teu choro não se ouve.

 

De manhã cedo

 

De manhã cedo a primeira erva,

caminhos silenciosos, amplas quintas e lameiros,

sombras familiares, pedaços de luz

e nós essa quietude, a persistência da mente.

 

 

Bo Carpelan, nasceu em 1926 em Helsínquia, foi um poeta e autor finlandês de língua sueca.

Vencedor do Nordiska Pris da Academia Sueca em 1997, foi a primeira pessoa a vencer duas vezes o Finlandia-palkinto (1993 e 2005), venceu também o European Prize for Literature em 2006.

Vítima de cancro em 2011, morreu em Espoo, sendo depois sepultado em Helsínquia.