Dois poemas sobre a Antiguidade (Yiorgos Seferis e A.E. Stallings)

Eurípides, o ateniense

 

Yiorgos Seferis

de Hmerologio Katastromatos G’ (Diário de Bordo III), 1953-55

 

Envelheceu entre os fogos de Troia
e as pedreiras da Sicília. 

Gostava de grutas na praia e imagens do mar.
Viu as veias dos homens
como uma rede dos deuses, onde nos prendem como a animais ferozes;
tentou romper através dela.
Era um homem difícil, tinha poucos amigos
Quando chegou o dia, despedaçaram-no os cães.  


Consolação para Tamar

A.  E. Stallings
De Archaic Smile (1999)

na ocasião de ela ter partido um vaso antigo 

Sabes que arqueóloga não sou, Tamar,
E para mim é tudo um pó ou outro.
Ainda assim, tem de contar alguma coisa sobreviver à meteorologia
Das Idades – terramoto, inundação e guerra –  

Só para se estilhaçar nas tuas mãos.
Talvez tenha sido a gravidade, ou estava fadado –
Embora eu me pergunte se não tivesse esperado
Tantos anos em gavetas, eras em terras distantes, 

E na música dos teus dedos, só um bocadinho
Encorajou-se com o teu sangue, e assim se esqueceu
Que não era botão de rosa, mas vaso,
E, tentando abrir-se para ti, fez-se frágil.  


Ευριπίδης, Αθηναίος

 

Γέρασε ανάμεσα στη φωτιά της Τροίας
και στα λατομεία της Σικελίας. 

Του άρεσαν οι σπηλιές στην αμμουδιά κι οι ζωγραφιές της θάλασσας.
Είδε τις φλέβες των ανθρώπων
σαν ένα δίχτυ των θεών, όπου μας πιάνουν σαν τ’ αγρίμια·
προσπάθησε να το τρυπήσει.
Ήταν στρυφνός, οι φίλοι του ήταν λίγοι·
ήρθε ο καιρός και τον σπαράξαν τα σκυλιά. 


 Consolation for Tamar

 

on the occasion of her breaking an ancient pot

 

You know I am no archaeologist, Tamar,
And that to me it is all one dust or another.
Still, it must mean something to survive the weather
Of the Ages—earthquake, flood, and war— 

Only to shatter in your very hands.
Perhaps it was gravity, or maybe fated—
Although I wonder if it had not waited
Those years in drawers, aeons in distant lands, 

And in your fingers' music, just a little
Was emboldened by your blood, and so forgot
That it was not a rosebud, but a pot,
And, trying to unfold for you, was brittle

A Partir de Um Provérbio Grego

A. E. Stallings em Like
(publicado também em Futures: Poetry of the Greek Crisis e aqui.)
Tradução de Tatiana Faia.

Ουδέν μονιμότερον του προσωρινού

Estamos aqui por enquanto, é o que respondo à pergunta –
É só por um par de anos, dissémos, faz doze anos.
Nada é mais permanente do que o temporário.

Jantamos sentados em cadeiras desdobráveis – baratas mas alegres.
Colámos com fita-cola o vidro da janela partido. A TV ainda não sintoniza.
Estamos aqui por enquanto, é o que respondo à pergunta.

Quando atravessámos a água, trouxémos só o que podíamos carregar,
Mas há sempre caixotes que não tornamos a abrir.
Nada é mais permanente do que o temporário.

Às vezes quando me sinto choramingas, propões uma teoria:
Nostalgia e gás lacrimogénio têm o mesmo travo acre.
Estamos aqui por enquanto, é o que respondo à pergunta –

Escondemos ossos no armário quando não temos tempo de os enterrar,
Enfiamos recibos em envelopes, arquivamos papéis em pilhas.
Nada é mais permanente do que o temporário.

Faz doze anos e ainda estamos a comer do de costume:
Deixámos para trás a loiça do enxoval, com receio que estalasse.
Estamos aqui por enquanto, é o que respondo à pergunta,
Mas nada é mais permanente do que o temporário.