Cinco poemas de Miguel Hernández

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Miguel Hernández era um herói. A primeira vez que ouvi falar dele foi num conto do autor grego Christos Ikonomou, cujo título, “O Sangue da Cebola,” foi inspirado numa canção de embalar que Miguel Hernández escreveu para um dos filhos, Balada da Cebola. Nascido na mais absoluta pobreza em 1910 em Orihuela, filho de um pastor, manteve a intervalos o mesmo trabalho. Educado num colégio de jesuítas e dele retirado precocemente aos catorze anos de idade, o pai batia-lhe por não guardar os rebanhos como era devido. Da educação entre os jesuítas ficou-lhe o primeiro encontro com Góngora e uma obsessão por se tornar poeta. Tirado da escola, continuou a estudar literatura sozinho, quando regressava dos campos. Os seus sonetos são tidos como um dos expoentes máximos do soneto espanhol em qualquer época. Casado uma vez, mas com o grande amor da sua vida, Josefina Marhuenda, Hernández teve dois filhos, o primeiro dos quais morreu de malnutrição, vítima da guerra civil e da violência perpetrada pelo regime de Franco. Resistente aberto aos nacionalistas, quando Madrid cai em 1939, Hernandéz tenta fugir para Portugal, para pedir asilo à embaixada do Chile mas é preso na fronteira e entregue às autoridades espanholas. Dele, que se alistara no exército republicano, que escrevera e lera canções de resistência pelas ruas, na sequência da morte de Llorca, Franco dizia que não faria outro mártir da causa republicana. Miguel Hernández morreu a 28 de Março de 1942, com apenas 31 anos de idade, numa prisão em Alicante, de complicações causadas pela febre tifoide.

Hernandéz escreveu sobre tudo o que um poeta deve escrever: amizade, amor, paixão, resistência, desobediência, a fealdade da maldade dos homens, a beleza de árvores e frutos, a ligação entre os homens e a natureza, a injustiça da morte e da pobreza, e revoltou-se contra tudo aquilo que um ser humano decente tem obrigação de se revoltar. As imagens que encontramos nos seus poemas devolvem o mundo à sua intensidade, a um lado misterioso, sensual, onde a inquietude se converte num método para estar vivo. O poema de onde Ikonomou tirou o seu título para falar sobre uma fábrica na Grécia, em pleno início da crise, Balada da Cebola, foi escrito para o segundo filho de Hernández, Manuel Miguel, numa altura em que a mulher lhe disse que em casa não havia mais nada para comer além de pão e cebola. No auge do desespero, Hernández nunca sucumbiu ao desalento e os seus poemas são sempre um tributo ao que em nós resiste à destruição e ao amesquinhamento.

Os cinco poemas que aqui traduzo foram cotejados com as traduções de Don Share na sua edição dos poemas escolhidos de Hernández para a New York Review of Books e de Ted Genoways, Timothy Baland e Robert Bly na edição dos Selected Poems editada pela The University of Chicago Press. Ambos os livros são belíssimas introduções à obra de Hernández. Mais informação sobre a vida e a obra do poeta pode ser encontrada aqui

Tatiana Faia

Oxford, Maio e Junho de 2018

O teu coração é uma laranja gelada

O teu coração é uma laranja gelada
com um interior sem luz de doce zimbro   
e uma porosa aparência de ouro: um exterior
que promete riscos ao olhar.

O meu coração é uma febril romã
de vermelho cerrado e aberta cera,
que te podia oferecer as suas ternas contas
com uma obsessão apaixonada.

Uma investida no desalento, sim,
ir até ao teu coração e achar o gelo
de uma irredutível e pavorosa neve!

Nos arredores do meu choro
ergue-se o voo de um lenço sedento
que dele espera embeber-se.


Atiraste-me um limão, tão amargo

Atiraste-me um limão, tão amargo, 
com uma mão quente, tão pura,
que não desprezou a sua arquitectura
e apesar disto provei a sua amargura.

Com este golpe de amarelo, o meu sangue
passou de uma doce letargia a uma angustiada
febre, ao sentir a mordida
da extremidade de um seio rígido e longo.

Mas ao ver-te e ao ver o sorriso
que te causou este acontecimento cor de limão, 
tão afastado da minha malícia voraz,

o sangue adormeceu-me na camisa
e o permeável peito cor de ouro converteu-se
numa aguçada e deslumbrante pena. 



Carta

O pombal das cartas
começa o seu impossível voo
desde as trémulas mesas
onde se debruça a recordação,
a gravidade da ausência,
o coração, o silêncio.

Ouço o batimento de cartas
navegando em direcção ao centro.

Onde vou encontro-me
com homens e mulheres
gravemente feridos pela ausência,
desgastados pelo tempo. 

Cartas, relações, cartas:
postais, sonhos
fragmentos de ternura,
projectados no céu,
lançados de sangue a sangue
e de desejo a desejo.

Ainda que debaixo da terra
esteja o meu corpo que ama
escreve-me na terra
que eu hei-de escrever-te.

A um canto emudecem
cartas velhas, velhos envelopes,
com a cor da idade
impressa sobre a escrita.
Ali perecem as cartas
Cheias de estremecimentos.
Ali agoniza a tinta
e desfalecem as folhas soltas,
e o papel enche-se de buracos
como um breve cemitério,
das paixões de antes
dos amores de depois.

Ainda que debaixo da terra
esteja o meu corpo que ama
escreve-me na terra
que eu hei-de escrever-te.

Quando te escrevo
emocionam-se os tinteiros:
os negros tinteiros frios
fazem-se vermelhos e ternos,
e um claro calor humano
ergue-se do fundo negro. 
Quando te escrevo,
escrevem-te os meus ossos:
escrevo-te com a inapagável
tinta do meu sentimento.

Além vai a minha carta incandescente,
pomba forjada no fogo,
com as duas asas dobradas
e a direcção no meio. 
Ave que só persegue
por ninho o ar e o céu,
carne, mãos, olhos teus,
e o espaço do teu alento.

E estarás nua
dentro dos teus sentimentos,
sem roupa, para a sentir
completamente contra o teu peito.

Ainda que debaixo da terra
esteja o meu corpo que ama
escreve-me na terra
que eu hei-de escrever-te.

Ontem uma carta ficou
abandonada e sem dono,
voando acima dos olhos
de alguém que perdeu o seu corpo.
Cartas que permanecem vivas
falando aos mortos
papel anelante, humano,
sem olhos que possam sê-lo.

Enquanto os caninos crescem,
sinto cada vez mais perto
a leve voz da tua carta
que é como um clamor imenso.
Chegará enquanto durmo,
se não for possível desperto.
E as minhas feridas hão-de ser
os tinteiros derramados,
as bocas estremecidas
de recordar os teus beijos
e com a sua voz inaudível
hão-de repetir: amo-te. 


O último recanto

O último e o primeiro:
recanto para o sol maior,
sepultura desta vida
onde não cabem os teus olhos.

Era ali que me queria estender
para me desapaixonar. 

Quero-o pela oliveira,
persigo-o pela rua,
some-se pelos recantos
onde se somem as árvores. 

Afunda-se e torna-se mais funda
a intensidade do meu sangue.

As oliveiras moribundas
florescem por todo o ar
e os rapazes permanecem
próximos e agonizantes.

Carne do meu movimento,
ossos de ritmos mortais:
morro por respirar
sobre os vossos gestos. 

Coração que, entre duas pedras
ansiosas por esmagar-te,
te afogas de tanto querer
como um mar entre dois mares.
De tanto querer afogo-me,
e já não é possível afogar-te.

Um beijo que vem girando
desde o princípio do mundo
a minha boca pelos teus lábios.
Beijo que se impele para o futuro,
Boca como um duplo astro
que entre os astros pulsa
por tantos beijos interrompidos
por tantas bocas fechadas
sem um beijo solitário.

Que fiz eu para que pusessem
à minha vida tanto cárcere?

O teu cabelo onde o negro
sofreu as idades
do negro mais seguro
e mais emocionante:
o teu cabelo negro de séculos
que percorro até regressar
ao primeiro negro
dos teus olhos e dos teus ancestrais,
ao recanto de cabelo denso
onde te acendeste como um relâmpago.

Como um recanto solitário
ali o homem brota e arde.

O recanto do teu ventre,
o beco da tua carne:
o beco sem saída
onde uma tarde agonizei.

A pólvora e o amor
marcham sobre as cidades
deslumbrando, remexendo
a povoação do sangue.

A laranjeira tem o sabor da vida
e a oliveira o do tempo.
E apanhada no seu clamor
debate-se a minha paixão.

O primeiro e o último:
recanto onde algum cadáver
sente o arrulhar do mundo
dos amados canais.

Sesta que encheu de treva
o sol nas humidades.

Era ali que me queria estender
para me desapaixonar.

Depois do amor, a terra.
Depois da terra, ninguém.
 

Depois do amor

Não pudemos ser. A terra
não pode tanto. Não somos
tudo a que se propôs o sol
no seu ensejo distante. 
Um pé aproxima-se da claridade.
O outro insiste na escuridão. 
Porque o amor não é perpétuo
em ninguém, nem sequer em mim.
O ódio aguarda a sua vez
no mais fundo do carvão.
Vermelho é o ódio e bem-nutrido. 

O amor, pálido e solitário. 

Cansado de odiar, amo-te.
Cansado de amar, odeio-te.

É tempo de chuva, é tempo de chuva.
E num dia mais triste que todos,
triste por toda a terra,
triste de mim até ao lobo, 
dormimos e acordamos
com um tigre entre os olhos. 

Pedras, homens como pedras,
endurecidos e cheios de rancor
colidem no ar, onde
as pedras colidem subitamente.
Solidões que hoje retrocedem
e ontem juntavam os rostos.
Solidões que no beijo
guardam o rugido surdo.
Solidões para sempre.
Solidões desamparadas.

Corpos como um mar voraz,
contrariado, furioso. 
Solitariamente atados
pelo amor, pelo ódio. 
Os homens surgem pelas veias,
cruzam as cidades cheios de ira.

No coração tudo
se enraíza solitariamente.
Passos solitários ficam para trás
como se submersos, no fundo da água.

Só uma voz, ao longe,
sempre ao longe a ouço,
acompanha e força-me a ir em frente
como um pescoço acima dos ombros.

Só uma voz me arrebata
deste intricado andaime
de pêlo retorcido
e eriçado que visto.

Ventos secos não podem
secar sumarentos mares.
E o coração permanece
fresco no cárcere da sua colheita
porque essa voz é a arma
mais terna das correntes:

“Miguel, eu lembro-me de ti
depois do sol e do pó,
antes da própria lua,
túmulo de um sonho de amor.”

Amor: afasta o meu ser
das suas primeiras ruínas,
e construindo-me, dita
uma verdade como um sopro.

Depois do amor, a terra.
Depois da terra, tudo.   
 

Caderno 5: leituras desta semana

Temos vindo a publicar na nossa página do Facebook e na página do Caderno 5 leituras de textos que integram o Caderno 5. Estes foram as leituras partilhadas esta semana.

"hoje aprendi a fazer quibe"

hoje aprendi a fazer quibe
cozinhei a abóbora
misturei com o trigo
alimentei meu ócio
e a minha fome
ontem desenhei um camelo
parado num ponto de ônibus
sonhando em voltar para o deserto
amanhã reservarei meu dia para fazer planilhas
e diagramar o futuro
plantei uma semente mas me esqueci o nome da planta - sabe, é tanta coisa que precisamos guardar que acabamos esquecendo todas - ela me dizia com uma voz grave
ela fumava cigarros e comia flores
arrumei a louça bagunçada na pia
eu servia pr'aquilo
arrumar bagunças
poderia ser essa a resposta
já eu me bagunçava tanto
embora mantivesse a pose
parecia organizada
eu sabia que o batom me conferia um ar organizável
era aquele tal lance
de ter fome
a tal fome de se tornar um tudo que não sou
"esse eu falando na primeira pessoa do singular
esta pessoa singular"
esta pessoa
e insistem em nos fazer a pergunta
a mesma pergunta sem resposta
a resposta seria a resposta
o que você faz
mas você o que é você 
faz
você o que
eu eu eu
pronome
pessoal
é irredutível
"eu é qualquer coisa além
aquém qualquer alter outrem"

A importância do não-dito

Hölderlin concluiu a sua obra aos 30 anos

Hölderlin concluiu a sua obra aos 30 anos

Há um artigo/ensaio de Steiner que acho delicioso (delícia de ideias, como temos as delícias do mar), na tradução portuguesa (Miguel Serras Pereira) chama-se “O silêncio e o poeta” e pode ser lido em George Steiner. Linguagem e Silêncio, Ensaios Sobre a Literatura, a Linguagem e o Inumano (Gradiva, 2014).

Confesso uma admiração sem condições pela escrita de Steiner, recai-a sobre mim, pois, a suspeição de um aficionado embasbacado pelo que o entusiasma. Contudo, sou também um veterano da leitura (como do ténis), e pouco dado a fixações. Se gosto de Steiner é muito mais pelas suas qualidades intrínsecas do que por um capricho subjectivo (haverá caprichos objectivos?).

 A centralidade do texto trata das virtudes do não-dito, o palavroso ou cai na banalidade ou num excesso de tipo fáustico. Para chegar aí, Steiner assegura que desde o romantismo alemão, a palavra se foi submetendo à música. Wagner e Nietzsche, cada um à sua maneira, encarnam o ideal da supremacia musical. Revogada em parte a utopia da totalidade musical wagneriana, mantém-se, porém, “a ideia de que a música é mais profunda, mais inclusiva, do que a linguagem, de que irrompe imediatamente das nascentes da nossa existência”. A tese de Lévi-Strauss segundo a qual o compositor é um ser idêntico aos deuses (“un être pareil aux dieux”) prolonga Nietzsche (“A vida sem a música seria um erro”), o sucesso incomensurável de grupos musicais como The Rolling Stones, o tempo imenso que os adolescentes dedicam à música… Isto e pelo menos outro tanto demonstra o declínio da palavra.

Chegado a este ponto, Steiner muda ligeiramente de linha para, declaradamente, criticar o dizer excessivo, como se acusasse o uso pletórico da palavra de, entre outras coisas, ter aberto portas ao domínio da linguagem musical. A estratégia é destacar os autores que se silenciaram no momento certo, que não disseram mais do que deviam, e podiam. Hölderlin deu à língua alemã “uma densidade, uma pureza e uma plenitude de articulação formal inexcedíveis”. E tudo isto foi conseguido até aos trinta anos. Rimbaud escreveu Une Saison en enfer aos dezoito anos, e foi negociar armas para África, de onde enviou um “dilúvio de cartas”, mas sem uma linha que fosse de poesia. Neste caso, diz Steiner, o poeta abdicou porque julgou a acção acima da palavra. Kafka, por seu turno, que desejou explicitamente ver queimados os seus escritos não publicados (continuamos a felicitar Max Brod por ter sido infiel ao testamento do amigo), parece, refere Steiner, que deu ao seu estilo uma vitalidade onde “não há uma só sílaba antecipadamente garantida.” Este vitalismo obriga a palavra a seguir as leis da sobrevivência, banindo qualquer rodriguinho linguístico.

Estes exemplos supremos (Steiner faz alguma batota ao confrontar os mortais com os imortais) levam à conclusão de que as grandes obras têm pelo menos tanto de dito como de não-dito. Ora, já em 1966 Steiner achava que havia uma “massa de textos impressos, por entre os quais temos dificuldades em abrir caminho, desorientados”. E que “Uma civilização de palavras é uma civilização doentia.” A pressão para se produzirem obras-primas sobre obras-primas, “A proliferação da verborreia na investigação humanística”, a coscuvilhice, o “turbilhão de palavreado oco”, o excesso linguístico faz-nos suplicar pelo silêncio (forma, sem que Steiner o diga, de combater a efervescência musical): “O silêncio é uma alternativa. Quando a pólis transborda de palavras cheias de ferocidade e de mentira, não há ressonância mais intensa do que a do poema não escrito.” Era também o silêncio a arma mais temível das sereias, superior ao seu cântico, como nos relembrou Kafka.

É tempo, pois, de parar, peguem nisto à vossa maneira, eu vou abraçar uma árvore. Apesar de ter uma fé absoluta nas palavras.

Charles Bukowski, "o preço"

 

Tradução: João Coles

 

Bukowski durante uma emissão do programa  "apostrophes", em paris  (1978)

Bukowski durante uma emissão do programa  "apostrophes", em paris  (1978)

o preço

a beber champanhe de 15 dólares – 
Cordon Rouge – com as prostitutas.

uma chama-se Georgia e
não gosta de collants:
ajudo-a sempre a puxar
as suas longas meias pretas.

a outra chama-se Pam – mais bonita
mas sem muita alma, e
fumamos e falamos e
brinco com as pernas delas e
enfio o meu pé descalço
na mala aberta da Georgia.
está cheia de
frascos de comprimidos.
tiro-lhe alguns.

“ouçam”, digo, “uma de vocês
tem alma, a outra
tem físico. não dá para
misturar-vos as duas? pegar na alma
e enfiá-la no físico?”

“se me quiseres,” diz a Pam, “vai-te
custar cem dólares.”

bebemos mais uns copos e a Georgia
cai para o chão sem conseguir
se levantar.

digo à Pam que gosto muito
dos brincos que traz. ela tem
o cabelo comprido e dum ruivo
natural.

“estava a gozar em relação aos
cem dólares.” diz ela.

“ah,” digo, “o que é que me vai
custar?”

acendeu o cigarro com
o meu isqueiro e olhou para mim
através da chama:

os seus olhos revelaram-mo.

“escuta,” digo, “não acho que consiga
pagar esse preço outra vez.”

cruza as pernas,
puxa do cigarro

e assim que expira o fumo
sorri e diz, “claro que consegues.”

In Love is a Dog from Hell


the price

drinking 15 dollar champagne —
Cordon Rouge — with the hookers.

one is named Georgia and she
doesn’t like pantyhose:
I keep helping her pull up
her long dark stockings.

the other is Pam — prettier
but not much soul, and
we smoke and talk and I
play with their legs and
stick my bare foot into
Georgia’s open purse.
it’s filled with bottles of pills. I
take some of the pills.

“listen,” I say, “one of
you has soul, the other
looks. can’t I combine
the 2 of you? take the soul
and stick it into the looks?”

“you want me,” says Pam, “it
will cost you a hundred.”

we drink some more and Georgia
falls to the floor and can’t
get up.

I tell Pam that I like her
earrings very much. her
hair is long and a natural
red.

“I was only kidding about the
hundred,” she says.

“oh,” I say, “what will it cost
me?”

she lights her cigarette with
my lighter and looks at me
through the flame:

her eyes tell me.

“look,” I say, “I don’t think I
can ever pay that price again.”

she crosses her legs
inhales on her cigarette

as she exhales she smiles
and says, “sure you can.”

In Love is a Dog from Hell