[a Ricardo Reis]

a Ricardo Reis

 Mestre

quando a guerra terminar
farei um abrigo de rosas brancas
e lá nos encontraremos
e olharemos o futuro
 em que juntos traremos o rio nos olhos

e conforme dizias
deixaremos que o dia passe leve
e sem pesar
entregando a agonia aos deuses
nossos cuidadores incautos

e ausentes de qualquer enleio
falaremos do exílio na pátria
que não no Olimpo
e soltaremos cada hora
roubada ao nosso momento

quando o dia acabar
e o abrigo de rosas secar
cada um de nós partirá
tranquilo
para o seu jardim indefeso

porque

as nossas mãos continuarão vazias
e os nossos sonhos

esses

estarão guardados no intervalo do tempo