A nuvem Helena

A nuvem Helena que conduziu os helenos e ainda conduz
é um espectro do Egipto, uma estátua de bruma,
escreveu Eurípides. Helena avança e diz: 

é parecida comigo, quase igual,
reconheço-a mas não sei quem é, um eu de éter,
fizeram-me desaparecer e deram à guerra 

uma imagem, a minha fama
e a minha forma, mas eu estive escondida numa névoa,  
decisão dos deuses que fazem o que não temem 

porque um deus nada deve, de modo
que é deles a dualidade e o desdobramento,
mas o remorso é meu, que estou inocente, 

homens combatem em meu nome, disputam a beleza
que é céu e abismo,
e morrem amigos, irmãos, generais, 

cavalos, dez anos em batalha dez vezes
amarga, ilusão do sangue que corre
por causa do meu sangue ausente, 

«um nome pode estar em muitos sítios
mas um corpo não»,  e eu comovida e desgostosa,
a querer responder 

ao que tantos perguntam: «é por uma sombra
que sofremos?», «é por um fantasma?».
Isso porém não seria honrado: 

Tróia  é imortal, Helena eterna, e eu apenas uma nuvem.