Precisamos de ir, agora, sabes
/Precisamos de ir, agora, sabes, 
o relógio parou, 
ficaste sentada como sempre disseste que ficarias.  
Mas temos um problema, 
nunca me chamaram, 
muito menos o tempo, 
e aquilo que tens por agora é pouco.  
Podes sempre tentar dizer cores, 
uma a uma, como segundos ou ponteiros, 
mas ficar-te-ia mal sabê-las: 
assim como assim nunca nenhum relógio 
ficou sem horas.  
E porque caberão todas as horas num relógio? 
Deviam acabar todas à meia-noite, 
e depois vinha outro tempo, e nada voltava.  
Esta mania de tudo ser um círculo.
E na realidade, que outro tempo há?
Por isso, meu amor, posso-te chamar assim?, 
não tenhas medo de uma rua que se abre, 
não te estranhes os sons de um rio. 
Haverá sempre uns quantos metros 
até que o espaço se transforme em tempo, 
e tudo o que viveste num passo ou numa fuga 
tenha a consistência exacta de uma hora.  
Não é para isso que servem os poemas?

 
                     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
                 
                 
                 
                