nothing can go wrong for us, tell me

O coração parou, naquele dia o meu coração virou uma mancha preta, lodosa, morri, o táxi a escurecer na curva, não fazia sentido, tantas marteladas de nuca contra o travesseiro, sofri como um cão, o mundo, mundo nenhum depois de ti, chorei sem chorar, uma dor seca, demasiado aguda para lágrimas, verti um rio por dentro, recuperei ou tentei ou não tentei superar o teu desaparecimento, mordidelas noutras línguas e o nariz enterrado noutros decotes, não funcionou, não parava de pensar em ti, a tua boca, o teu cabelo, engolia em seco, ainda penso em ti, ainda só penso em ti, agora estás aqui, a minha mão pousada na tua, dizes que ficas, os lábios colados, dizes que não existe passado, que não existimos, que somos álbuns fotográficos, o teu rosto no meu ombro e sou o outro eu perfeito, o eu que mais ninguém conhece, belo, gracioso, Eva, és minha, a felicidade é isto, estes cinco segundos, és minha, e amanhã não sei, quem sabe, vejo carne e vermelho e pernas entrelaçadas e suor e unhas a furar a carne e a saia ao ar e nós escarranchados contra a parede, uma alegria, a baba, o ranho, tu no meu colo, a vida a fazer sentido.