Pulsações verticais

De alguma forma o topo de um arranha-céus não pertence à cidade. 
Estamos longe de tudo, do concreto, dos passeios, do vidro, das pessoas, 
Até as grandes colunas que crescem do chão e que transportam cabos de energia  
Parecem esculturas ornamentais - e agitam-se ao vento como harpas metálicas
Produzindo um som seco e frio. Tornaram-se uma parte da natureza. 
As margens amarelas dos estacionamentos parecem finos fios que tecem  
Um mapa delicado das ruas. Encontram-se em cruzamentos como clareiras da floresta. 
Tudo, lá em baixo, fica distante e se altera numa agora vulgar sinfonia
Onde o ruído cortante das sirenes se transfigura em lamento de sereia. 

E quando ouvimos a voz ferida das paredes, 
Quando vemos as nuvens que viajam aqui bem perto
E observam reflectidas nos vidros altos dos prédios a sua  
Própria imagem como se fossem passeando em frente de um espelho. 
Quando, lá em baixo, todas as cores se confundem, 
O alcatrão e as linhas brancas das passadeiras, 
As múltiplas cores da multidão transformadas num arco-Íris de pequenas sombras indistintas. 
Quando os sons dos automóveis parecem uma recordação longínqua
Ou um lento murmurar da cidade como se o coração de cimento tivesse um pulsar próprio. 
Quando os prédios não são prédios mas um bosque na cidade vestido de cinzento, 

Sabemos que isto é algo de muito especial. 
Sabemos que esta subida é como uma peregrinação. 
Sabemos que a verdade da cidade só é alcançável a esta distância. 
E ficamos cá em cima toda a tarde, como num altar, em oração.