Objectos Últimos

Comovem-me os pacotinhos de sumo barato nas mesas-de-cabeceira dos hospitais,
Os desenhos e rabiscos de garotos de dois ou quatro anos que não se lembrarão do avô,
O sumo dias e dias intocado, a fome dos últimos momentos pouca, a sede enganada gota a gota,
Comovem-me os relógios de pulso, últimos companheiros não fosse a falha nas pilhas
Ou de quem lhe dá corda, enfiados no fundo das gavetas contra vontade,
Porque estavam a incomodar uma veia, escondendo assim a hora da partida,
Os anos, décadas antes, presidentes já falecidos, à noite da boca descai-se um mãe,
Tudo para enganar a última visita, quase sempre rodeados de outras solidões,
Gemidos alheios que quase um eco, comovem-me as caixas de bombons
Que ficam por ali, abertas, cheias, ao lado da placa que já não consegue nem um sorriso,
Comovem-me os objectos pequenos, os últimos da vida, porque no fim
Tudo sabe a tão pouco para nada, a vida acaba e o pacotinho de sumo intocado.


30.03.2018

Turku