Índice de Bolsa

“um terrier da montanha (…) pela raça
e instinto natural se destinava a caçar
o texugo e a afugentar a raposa da toca”

                                 Wordsworth

 

Da época pré-bolsa
pouco terá restado. Talvez apenas aquela
camisa que usava na missa aos domingos.
Era o tempo [do segredo] em que a alegria e a
espontaneidade lhe corriam pelos lábios e dedos. 

Depois veio a bolsa e o balão começou
a crescer a crescer a crescer.
No gráfico a seta crescia dia para dia
à velocidade da luz.
À noite sentado na secretária fazia listas:
- mudar o Asus por um Mac
- mudar as lentes (umas maiores mais inteligentes)
- usar apenas Gant (ou Sacoor)
- olhar sempre por cima das sobrancelhas
- dizer pausadamente os autores bibliograficamente falando.
- não mover a cabeça (nem para a esquerda nem para a direita)
- sorrir pouco
- selecionar selecionar selecionar 

O pior foi quando a bolsa acabou.
A seta em depressão vinda do alto cume
caiu em mil estilhaços sobre o chão.  Era necessário outra vez
sorrir e dizer olá. Olhar cara a cara os esquecidos amigos.
Tudo isso veio a aprender na empresa que
 nenhuma importância dava aos balões. 

À noite no seu quarto alugado escrevia:
no more illusions no more illusions
no more illusions no more illusions …