jonas ou a reinvenção
/Manuscrito Walter, W.547, fol. 40r
jonas,
voltaste hoje a israel.
era já noite e
bem sabes que
depois das dez
o silêncio jurídico do teu prédio
proíbe 
banho     água    sabão azul.
depois das dez
és sempre essa
coisa suja e ruim em
repouso aristotélico
bactéria-verme e impureza
jonas,
queria lavar o teu corpo uma 
última vez
talvez esteja demente
quando te digo que
passo as minhas tardes
com os rebanhos do mar,
talvez esteja demente 
quando te digo que
alimento nas rochas 
a lembrança de uma
humidade corrompida
em águas cervicais
jonas,
a vontade aperta-me as escamas
e as ondas queimam como o ar
espero-te três dias e três noites e
peço-te 
que voltes comigo 
para celebrar o batismo 
da primeira traição

 
                     
             
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
                 
                 
                 
                