[em cada novo esboço]

em cada novo esboço

um promontório.

saltamos lado a lado

o mesmo estirador comprido

os mesmos postais do Pompidou

gastos os vazios de Chillida

lápis e catálogos e revistas

que ignoram os nossos olhos baços

em cada novo desenho

um matrimónio.

a minha vida nua

os beijos da tua

como crepitar de fogueiras

raros poemas ameríndios e promessas

o verbo já encarnado

chegaste.

contigo trouxeste a simetria

de dois pelicanos sobre o peito

a alegria de duas ou três

camisas de seda floridas

raras golas amarelas

que ano após ano

me deixam sempre a dúvida:

- o verão não morre em setembro?

Eduardo Chilida - Homenagem a Braque, 1990..jpg

Eduardo Chillida - “Homenagem a Braque”, 1990.