An uncertain time after Patmos

we heard and remained: the islands
won't come they won't
wait                 at the light-blue
twilight
        you step your foot
on culture dry as milk
we wait and             we drink
to dance, spirits and lose the snow
hiding our purpose. if you had the dead
flowers in your hairskin rendezvous
with the past,       if you wait
and it comes with the golem
we wrote, some giotto
criminal        with the word
no one speaks–  eleven stars
from marburg, each god
pathetic, just like schubert
would have wanted it.
               who is the third, the false
beginning? sometimes in seas
   of ghosts turned athletes
      a fire flows downwards, graceful.

The Artisan

His friend sneaks him cadavers
out of the freezer; vagabonds
and those that still wait
for a family that will never come.
Their flesh wanes until only bones
remain, resting half-buried
in the woods.

He digs them back up
and carves so many relics.

There are skulls filled with sawdust
to be sandbags of a hot-air balloon
free-falling after a sudden gust;

there are two lanky candles, once
index fingers of an abandoned body,
that when blown, extinguish the light
coming from the velvet-coated
rib cage sconce, and then all
is dark.

He also sells his wares
to those who aren't disgusted
by shaking hands with the dead –

scalemail from a thousand fingernails
and lead-coated patellae that will lie
on a plate against three pounds of flesh
as soon as the butcher arrives at work.

He grabs the chisel's handle, a tibia
sprinkled with bone dust, and resumes his task.
After that day's work is complete,
the excess is left out for the dogs.

pax deorum

μηδ᾽ Ολυμπίας αγῶνα φέρτερον

Píndaro


we crossed the hinterlands
of light with the praise
of the games
                        yet sometimes
the heart doubles as the flesh
bashful saints die just to prove
you wrong, and who's to say
who did it?
                   the road is green
ice your blood is spread across
I do not count each stone I
do not count the blessings this
stranger has brought to the world

Hymno Homérico a Diónysos

Εις Διόνυσον  [7]
Tradução do grego de Miguel Monteiro.


A Diónysos

Lembrar-me-ei do famoso filho de Semélê,
Diónysos, de como apareceu junto à orla do mar jamais vindimado
Num promontório saliente sob a forma dum jovem rapaz
Na flor da adolescência. Agitava à sua volta o seu belo cabelo
Negro, e trazia sobre os robustos ombros um manto
Púrpura. Duma nau bem-construida apareceram
Do nada uns homens sobre o mar cor-de-vinho:
Piratas etruscos que um funesto destino levara até lá. Quando o viram
Acenaram entre si, saíram depressa e capturaram-no
Para de coração satisfeito o levarem para dentro da nau.
Dizia-se entre eles que ele era filho desses que são criados por Zeus, de reis,
E queriam amarrá-lo com grilhões dolorosos,
Mas as correntes não só não o prendiam, como caíam para longe
Dos suas mãos e dos pés. Ele permaneceu sentado, a sorrir
Com os seus olhos negros; o homem do leme apercebeu-se disso
Sem hesitar, chamou os seus companheiros e disse-lhes:
«Que poderoso deus é este que apanharam e amarraram,
Desgraçados? A nossa nau bem construída não o consegue levar.
Trata-se certamente de Zeus, ou então de Apollo do arco de prata,
Ou de Poseidon. É que não há dúvida que não é a humanos mortais
Que se assemelha, mas aos deuses que habitam as moradas do Olympo.
Portanto mexam-se, deixemo-lo de volta na terra negra
Sem hesitar, e não lhe metam as mãos em cima se não querem que ele se enfureça
E levante ventos furiosos e grandes tempestades.»

Assim falou, mas o capitão respondeu-lhe mal,
«Meu desgraçado, preocupa-te com o vento, puxa comigo o mastro da nau
E arruma as cordas. Deixa este aqui para os homens a sério.
Tenho esperanças de que ele chegue ao Egipto, a Chipre,
Aos Hyperbóreos, ou outro sítio qualquer, e que no fim
Nos venha a falar dos seus entes queridos, das suas posses,
E nos conte quem são os seus irmãos, visto que uma divindade o enviou até nós.»
E quando se calou pôs-se a puxar o mastro e a vela da nau.
O vento soprou contra o meio da vela, esticou os panos
Pelos lados, e subitamente aconteceram prodígios.
Começou por brotar ao longo da veloz e negra nau vinho
Doce e fragrante donde se ergueu um aroma
Divino. Os marinheiros viram-no e foram tomados pelo espanto.
Logo de seguida partindo do topo da vela estendeu-se
De cima até baixo uma vinha donde pendiam inúmeras
Uvas. À volta do mastro enrolou-se uma hera
Toda ela florida e a gerar belos frutos.
Os bancos estavam todos cobertos de grinaldas. Quando se deram conta,
Pediram ao homem do leme que conduzisse sem hesitar a nau
Para a terra negra. Mas foi então que sobre o convéus da nau o deus se transformou
Num feroz leão a rugir com toda a força. No centro da nau gerou,
Para demonstrar o seu poder, um urso de farto pêlo
Que se pôs de pé em cólera enquanto o leão no topo do convés
Os olhava com esgar terrível. Eles fugiram para a popa
Para junto do homem do leme sensato e corajoso
E ficaram lá parados e perplexos. O leão sem aviso saltou em frente
E arrebatou o comandante, enquanto os outros evitaram um funesto destino
Quando, ao verem o acontecia, saltaram todos borda fora para o mar brilhante —
Transformaram-se em golfinhos. Mas o deus apiedou-se do homem do leme,
Reteve-o, e concedeu-lhe as maiores bençãos. Disse-lhe:
«Coragem, meu velho, querido do meu coração.
Eu sou Diónysos o Altissonante, nascido de minha mãe
Semélê, filha de Cadmo, quando se uniu em amor a Zeus.»
Alegra-te, filho da bela Semélê. Não é possível alguém
Esquecer-se de ti e lembrar-se de como embelezar um doce canto.
 


A presente tradução integra um projecto de tradução integral dos Hinos Homéricos a ser publicada em breve e realizada por João Diogo Loureiro, José Pedro Moreira, Miguel Monteiro, e Tatiana Faia.

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