3 poemas de Leopoldo María Panero / Félix J. Caballero

*

A rena avança sobre a neve

E fala aos anjos da nossa vida

E na nossa alma resta apenas um pouco de neve

Lutando contra os anjos e o vento

E caminhando sobre o papel

Como sobre o trilho dos cisnes.

 

*

A cerveja é o símbolo obscuro da vida

Como os rios simbolizam a vida

E actua na minha memória meu nome repetido

Pelas inúteis páginas e pelo esquecimento.

 

*

Ah a rosa da despedida

O mundo inteiro para dizer adeus

O pranto dos lírios

E o peixe para pescar na sombra

Para uivar como o vento

Que é a única testemunha da minha morte

Ah a rima assonante

E o absurdo do sonho

Agonia do verso onde soletra a vida

Como se a agonia fosse um verso.

 

"Ex-vida", de Pier Paolo Pasolini

Pasolini.jpg

Tradução: João Coles

No meio de um ténue fedor de matadouro
vejo a imagem do meu corpo:
seminu, ignorado, quase morto.
Assim me queria crucificado,
num clarão de delicado pavor,
quando era criança, já autómata do meu amor.
Mas por trás desta névoa de medula
(há quantos anos ou séculos aqui imóvel?)
ó Indivíduo, ó Sósia, descobres que és
feito de mim, do meu calor, e hostil
a uma morte anterior à minha.

Eu venho até ti depois de uma viagem inebriante.
Toquei, em dias de plena luz, as paredes
enegrecidas e a relva húmida de Casarsa.
Com um gesto negligente de guerreiro
ofereci o corpo nu ao tempo fresco
antiquíssimo, lânguido, de Meschio,
de Livenza, do Po... Brinquei na orla
de uma grande planície, nos seus prados
tórridos, sob céus intermináveis,
nas casas rejubiladas no seio de um leque
de mil cheiros afectuosos, subtis.

Entro no teu círculo, amargo, fresco
como minha mãe à tarde ao passar
o limiar da porta, emperlada de erva seca,
e trago comigo um vento de paisagens,
uma soberba leveza, uma cândida
coragem de forasteiro. E tu não exalas
senão silêncio. Ó desconhecido que foras tudo:
o rapaz perdido em casa,
o jovem burguês que acalentava
os falsos amores no seu amado coração,
agora és nada, O NADA, o puro erro.

E assim, ó esfomeado, ó desejo obscuro,
com um olhar de eras pré-humanas,
exprimes a tua vida de maníaco.
A tua mania é a vida do mundo.
De mim só pretendes que corresponda
ao teu louco esforço de te anulares,
ignoras todas as atracções do meu século,
todos os feriados, todas as paixões aprendidas
nos anos de uma vida abrasada de si mesma:
não te interessa saber que, no tempo, a eternidade
se oferece a festas quase eternas.

Ignoras também jogos ainda mais vitais:
confessar os desejos masculinos,
o amor pela minha mãe, que TU amaste,
a luz estagnada nas profundezas da noite
da infância...(Ó derradeiro candor
deste meu exibir! E tu ignora-lo.)
Amei somente quem tu odiavas.
Eternizei a minha sombra de jovem
para dela lamentar, ávido, os afectos
cheios de esperança, os ardores de lírio,
que inflamavam a minha carne de filho.

Por ti, num deserto de serenidade,
desonro o pobre segredo
do meu sexo, e, despreocupado, confesso-o.
Não sei por que milagre, sossegado
e enfim honesto, invoco das minhas neuroses
céus puros, lugares inodoros,
onde – como Matéria ou Morte – morres.
Sim, muitas vezes estás morto, e o rapaz
volta alegremente ao ventre, e o mitómano
à branda forma pleno de entusiasmo,
quando apenas a vida lhe resta.

Mas tu, nos confins do tempo, aqui me esperas,
dentro de mim, onde o ventre e os músculos
se contaminam de um fedor ameno de musgo
ou de excrementos; e enquanto uma escuridão nua
de vão de escada ou de bivaque
se adensa, vejo-te, múmia, autómato,
e vês-me a mim. Ó nostalgia mortal
para quem nunca te conheceu, e que ignorando,
ó puro Ser Vivo, as tuas angústias de orangotango,
perdia-se no próprio jucundo destino,
coração desconhecido num mundo desconhecido.

Casas e regressos - Yiorgos Seferis e Salvatore Quasimodo

Nikos Hadjikyriakos-Ghika, Pinheiros em Poros, 1949 Nota: Poros é a ilha onde estava naufragado o barco “O Tordo,” afundado durante a Segunda Guerra Mundial, que dá título a este ciclo de poemas de Seferis, de onde se traduziu este poema. Este quadr…

Nikos Hadjikyriakos-Ghika, Pinheiros em Poros, 1949

Nota: Poros é a ilha onde estava naufragado o barco “O Tordo,” afundado durante a Segunda Guerra Mundial, que dá título a este ciclo de poemas de Seferis, de onde se traduziu este poema. Este quadro e o poema são quase contemporâneos.

Tradução do grego e do italiano (respectivamente)
de Tatiana Faia

A casa junto ao mar

Yiorgos Seferis

 

 

As casas que tive tiraram-mas. Aconteceu
que eram desafortunados os tempos. Guerras exílios expatriados;
às vezes o caçador acerta nas aves migratórias
às vezes não acerta; caçar
era bom no meu tempo, levou muitos o chumbo;
os outros andam às voltas ou enlouquecem nos abrigos. 

Não me venhas falar do rouxinol ou da cotovia
nem da pequenina lavadisca
que na luz traça a soma com a cauda;
não sei muito sobre casas
percebo que têm a sua própria natureza, nada mais.
Novas no princípio, como crianças de colo
que brincam nos jardins com as franjas do sol,
bordam coloridas persianas e as mais luminosas
portas durante o dia.
Quando o arquitecto acaba, elas mudam,
franzem-se ou sorriem ou enchem-se de ressentimento
por quem ficou por quem partiu
por outros que voltariam se pudessem
ou pelos que desapareceram, agora que o mundo
se tornou um interminável hotel. 

Não sei muito sobre casas
recordo a sua alegria e a sua mágoa
às vezes, quando me é dado parar;
às vezes ainda, junto ao mar, em quartos despidos
com uma cama de ferro apenas e nada de meu
observando a tardia aranha, cismo
que alguém se prepara para chegar, que o adornam
de brancas e negras vestes e joias de variadas cores
e à sua volta veneráveis senhoras conversam com vagar
cabelos cinzentos e xailes de renda escura,
que ele se prepara para vir e despedir-se de mim
ou que uma mulher, pestanas tremendo, fina cintura,
regressada dos portos do sul
Esmirna Rodes Siracusa Alexandria
de cidades fechadas como persianas a escaldar,
com os seus aromas de frutos dourados e ervas,
sobe as escadas sem ver
os que adormeceram debaixo dos degraus. 

Sabes as casas ressentem-se facilmente, quando as despes.

 

De O Tordo, Parte I, 1947

 

Os regressos

 

Salvatore Quasimodo

 

Piazza Navona, de noite, deitado de costas
nos bancos em busca de paz,
e os olhos traçando retas e volutas em espiral
uniam as estrelas,
as mesmas que seguia quando menino
estendido sobre os seixos em Platani
silabando ao escuro as preces. 

Debaixo da cabeça cruzava as mãos
e recordava os regressos:
odor de fruta a secar nos varais,
goivo, gengibre, lavanda;
quando pensava em ler-te, mas devagar,
(eu a ti, mamã, num ângulo na sombra)
a parábola do pródigo,
que me seguia sempre nos silêncios
como um ritmo se abre a cada passo
sem querer.  

Mas aos mortos não é dado voltar,
não há tempo nem sequer para a mãe
quando a estrada chama;
e eu partia outra vez, trancado na noite
como a quem de madrugada dá medo ficar.  

E a estrada dava-me canções,
que são de bagos que crescem nas espigas,
de flores que embranquecem as oliveiras
entre o azul do linho e os narcisos;
ressonâncias nos redemoinhos de pó,
cantilenas de homens e estrépito de atrelados
com as lanternas que oscilam escassas
e têm apenas a claridade do vaga-lume.

 

De Águas e Terras, 1930  

Quatro poemas de Ismael Ramos

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Tradução de Daniel Ferreira


 

EM CADA UNIDADE FAMILIAR HÁ UM CARPINTEIRO, FABRICA CAIXÕES

 

O pai fabrica a sua própria morte. Esmera-se na figura. Cuida a forma dos dedos. Os signos do desfalecimento.
Estou a pensar no que me ensinou o meu pai. Lembro-me: não quis aprender nada.
O que não queria dizer é: terei sempre dezassete anos.
O pai constrói os órgãos do filho à sua semelhança. Confia na piedade.
O pai constrói-se dentro do filho. Em madeira. Depois arde.

 

de Lumes (2017)

 

EN CADA UNIDADE FAMILIAR HAI UN CARPINTEIRO, FABRICA ATAÚDES

 

O pai fabrica a súa propia morte. Afánase na figura. Coida a forma dos dedos. Os signos do desfalecemento.
Estou pensando no que me ensinou meu pai. Estou recordando: non quixen aprender nada.
O que non quería dicir é: terei sempre dezasete anos.
O pai constrúe os órganos do fillo á súa semellanza. Confíase á piedade.
O pai constrúese dentro do fillo. En madeira. Despois arde.

 

de Lumes (2017)  

 

 

EOS

 

Às nove da manhã entra a minha mãe num café ao pé da estrada, coxeando, atrás da minha irmã. Tomam o pequeno-almoço em silêncio. No balcão, eventualmente, alguém toma café e está atrasado para abrir o seu negócio. Provavelmente homens que dormiram umas quantas horas e nada mais. De vez em quando cruzam olhares e trocam dois dedos de conversa. A mãe lê o jornal e a minha irmã tira fotografias de tudo com o telemóvel.

Tomam o pequeno-almoço sentadas numa mesa ao fundo. Os donos do café conhecem-nas ainda que não saibam os seus nomes. A mulher por trás do balcão sorri e a minha mãe devolve-lhe o sorriso.

Depois, a minha irmã tem duas horas de inglês, ortografia e matemática. Isto quatro dias por semana. A minha mãe passeia pelas traseiras dos edifícios, duas horas, quatro dias por semana. Às vezes cansa-se e arrasta o pé direito.

À saída voltam ao café ou sentam-se contra alguma parede perto da estrada. O meu pai vai buscá-las na volta do trabalho.

É duro, mas tem de ser. 

 

de Lumes (2017)

EOS

 

Ás nove da mañá entra miña nai nun bar ao pé da estrada, coxean- do, detrás miña irmá. Almorzan en silencio. Poida que haxa na barra alguén que toma café e chega tarde a abrir o seu negocio. Probablemente homes que durmiron unhas poucas horas nada máis. De cando en vez míranse e fan algún comentario a unha da outra. Mamá le o xornal e miña irmá saca fotos de todo co móbil.

Almorzan sentadas nunha mesa do fondo. Os donos do bar coñécenas aínda que non saiban os seus nomes. A muller detrás da barra sorrí e miña nai devolve o sorriso.
Despois, miña irmá dúas horas de inglés, ortografía e matemáticas. Así catro días na semana. Miña nai pasea por detrás dos edificios, dúas horas, catro días na semana. Ás veces cansa e arrastra o pé dereito.

Á saída volven polo bar ou sentan contra algunha parede preto da estrada. Meu pai recólleas á volta do traballo.
É duro, pero ten que ser.

 

de Lumes (2017)

RETRATO DA MINHA MÃE COM UM PÊSSEGO

 

I

 

A minha mãe esfrega um pêssego pela coxa. Há um rasto de cor. Não porque a carne seja branca, mas porque a fruta apodrece.
A minha irmã escreve sobre como as mulheres romanas se maquilhavam usando fruta podre. Diz que é incrível. O que quer dizer é que lhe dá nojo.

 

II

 

A minha mãe arrasta um pêssego pela coxa. Sentada, não há direção.
O gesto não tem função alguma. Por isso é o gesto do poema. Só mancha, cheira, põe em relevo a nudez de tudo o resto.
Eu observo apoiado na porta.

 

III

 

Uma pele roça outra pele. Faz-se ferida, mancha. Desliza antes de chegar ao caroço. Desfaz-se.
E não há voo nem ferida.
Se eu olho, o gesto é quotidiano. Também o poema. O pêssego tem o tamanho do punho da minha mãe.

 

de Lumes (2017)

 

RETRATO DE MIÑA NAI CUN PEXEGO

 

I

 

Miña nai refrega un pexego pola coxa. Hai un rastro de cor. Non porque a carne sexa branca, mais porque podrece a froita.
Miña irmá escribe sobre como as mulleres romanas se maquillaban empregando froita podre. Di que é incrible. O que quere dicir é que lle dá asco.

 

II

 

Miña nai arrastra un pexego pola coxa. Sentada, non hai dirección. O xesto non ten función ningunha. Por iso é o xesto do poema. Só mancha, recende, pon de relevo a nudez de todo o demais.
Eu miro apoiado no marco da porta.

 

III

 

Unha pel roza outra pel. Rompe, mancha. Esvara antes de chegar á semente. Desfaise.
E non hai voo nin ferida.
Se eu miro, o xesto é cotián. Tamén o poema. O pexego ten o tamaño do puño de miña nai.

 

de Lumes (2017)

 

AGOSTO

 

Há barcos e pavilhões em chamas na cabeça da minha mãe. O sol nos recantos da videira.
Um punhado de farpas. Dedos.

 

*

 

Descrevi-o como a queda de uma nadadora. Os pés dobrados sobre a borda da piscina. Mas é mentira.É antes um corpo com varizes, nada parecido a um escorço ou algo redondo. Nada parecido a uma árvore. Tem a ver com a cabeça que bate contra uma pedra. Outra vez. Tem a ver com rezar, jamais com a natação.

 

*

 

Há pássaros a cantar na cabeça da minha mãe. E isso parecia-me belo. Mas os pássaros magoam com o bico, mordem, vomitam. Gotículas de sangue como olhos negros, diminutos.
O pássaro é circunstancial, como a ferida. Mas não cura.
O pássaro jamais se cura e cresce.

 

*

 

É sempre difícil descrever uma queda. Eu vestir-me-ia como o meu pai se tivesse que cair. E estaria calor, porque as coisas caem se estão maduras, se pesam.
Cair, bater, não sangrar.
Debaixo da árvore os homens aguardam a queda da maçã. Ela decidiu apodrecer pendurada.
Não teve escolha.

 

*

 

Eu trouxe toalhas, a minha irmã trouxe toalhas. Mas não havia sangue.
Vestir-me-ia como o meu pai, que apoiou a cabeça da minha mãe sobre o seu joelho e sustentou o que parecia impossível sustentar. Eu chamei-o de ninho de pressões, ainda que ali não nascesse nada.

 

*

 

Talvez foi compreender a cascata. O seu jeito contínuo de quebrar.

 

*

 

Não há fotos porque não se celebra, ainda que se conte.
Se houvesse fotos apareceria uma mulher atrás de uma cadeira com uma máscara de papel castanho. Sem olhos nem boca. E continuaria a ser um rosto.
Se houvesse fotos estaríamos todos juntos na praia. Eu levaria toalhas, a minha irmã levaria toalhas. Duas crianças ao fundo. O meu pai estaria perto da água. Os três vestidos com roupa do dia a dia. Enquanto isso, a minha mãe apanharia sol encostada ao joelho do meu pai, em fato de banho. A luz acariciando-lhe a cara. As folhas da videira que se movem sem deixar cicatriz.

 

de Lumes (2017)

 

AGOSTO

 

Hai barcos e pavillóns en chamas na cabeza de miña nai. O sol nas físgoas da parra.
Unha presada de achas. Dedos.

 

*

 

Describino como a caída dunha nadadora. As dedas dobradas sobre o bordo da piscina. Pero é mentira.
É máis ben un corpo con varices, nada parecido a un escorzo ou algo redondo. Nada parecido a unha árbore. Ten que ver coa cabeza que bate contra unha pedra. Outra vez. Ten que ver con rezar, nunca coa natación.

 

*

 

Hai paxaros cantando na cabeza de miña nai. E iso parecíame fermoso. Pero os paxaros danan co bico, morden, vomitan. Pinguiñas de sangue coma ollos negros, diminutos.
O paxaro é circunstancial, como a ferida. Mais non cura.
O paxaro non cura nunca e medra.

 

*

 

Sempre é difícil describir unha caída. Eu vestiríame coma meu pai se tivese que caer. E faría calor, porque as cousas caen se maduran. Se pesan.
Caer, golpear, non sangrar.
Baixo a árbore os homes agardan a caída da mazá. Ela decidiu podrecer pendurada.
Non tivo elección.

 

*

 

Eu trouxen toallas, miña irmá trouxo toallas. Pero non había sangue.
Vestiríame coma meu pai, que apoiou a cabeza de miña nai sobre o xeonllo e sostivo o que parecía imposible soster. Eu chameino niño de presións, aínda que alí non nacese nada.

 

*

 

Se cadra foi comprender a fervenza. O seu xeito continuo de romper.

 

*

 

Non hai fotos porque non se celebra aínda que se conte.
Se houbese fotos aparecería unha muller detrás dunha cadeira cunha carauta de papel marrón. Sen ollos nin boca. E seguiría sendo un rostro.
Se houbese fotos estariamos todos xuntos na praia. Eu levaría toallas, miña irmá levaría toallas. Dous nenos ao fondo. Meu pai estaría preto da auga. Os tres vestidos de diario. Mentres, miña nai tomaría o sol recostada sobre o xeonllo de meu pai, en traxe de baño. A luz acariñándolle a cara. As follas da parra que abanean sen deixar cicatriz.

 

de Lumes (2017)



NOTA SOBRE O AUTOR

 

Ismael Ramos (Mazaricos, Galiza, 1994) publicou os livros Os fillos da fame (Prémio Johan Carballeira, Xerais, 2016) e Lumes (Apiario, 2017), mais tarde, traduzido para castelhano como Fuegos (La Bella Varsovia, 2019) pelo poeta. Este ano, 2020, Fuegos foi galardoado com o Prémio Javier Morote, concedido pelas livrarias independentes espanholas, na categoria de melhor livro publicado por um jovem autor em 2019. A sua obra integra volumes coletivos como No seu despregar (Apiario, 2016), 13: Antoloxía da poesía galega próxima (Chan da Pólvora e papeles mínimos, 2017), Poetízate: Antoloxía da poesia galega (Xerais, 2018) ou Piel fina: Joven poesia española (Ediciones Maremagnum, 2019). Foi ainda publicado em revistas como A Bacana, Clarín, Dorna, Grial, Luzes, Oculta Lit, PlayGround ou tr3sreinos. Teve poemas seus traduzidos para alemão, castelhano, finlandês, francês, húngaro, inglês e português. Na World Wide Web escreve no blogue O Triste Stephen (otristestephen.tumblr.com).

Seltzer

 

1.

Aqui está o meu quarto, sorrindo como uma floresta

de umbigos                       contudo, em segredo

                                                               tão triste e imundo.

 

2.

respira fundo o suficiente e estamos possessos.

respira novamente e estaremos perdidos.

 

3.

a melhor coisa de hoje

é a ideia do amanhã.

                               faremos um piquenique.

 

4. quem pode argumentar com 6000 andorinhas

voando de uma nuvem única,

                                                               como alegria.

 

5. quando morrermos poderemos ver a Virgem Maria

sentada diante do pai, do filho, e do Espírito Santo

 

agora mesmo contento-me contigo

com o teu soutien desapertado     (sob uma árvore)

no ferryboat da Staten Island.

 

Jim Carroll