Como um relógio cuco quando apita a hora

Como um relógio cuco quando apita a hora — hora e meia, não sei? — 
a língua — que é todo um investimento — está capitalizada em um lugar nenhum. 
Dinheiro? Que me dêem mais do que é preciso & que assim eu fique bem. 
É o credo dos tempos, não disse?, E haja quem puder abnegar o deus 
dizer três vezes que não necessita, ir viver entre os pauzinhos 
de uma cabana ou amassar o próprio pão — respeito-os todos. 
A roda dentada não para de morder, entretanto não tenho paraíso 
fiscal para fugir. É toda vez isso: a conta no negativo, 
e mais e mais e mais. Em retribuição escarro em mim 
a dívida do mérito, vácuo que rege a fé em todos os supermercados, 
estacionamentos, eleições de municípios e se camufla 
em latifúndios de uma gente sem esperança, só com resultados 
mortes de índios, helicópteros empilhados num hangar, 
vez ou outra é só uma imensidão de queda 
vez ou outra é só um hemisfério inteiro 
que padece de fome, de frio, e morre.