Três poemas de Mana Al-Sheikh em tradução de Rui Cóias

A iraquiana Manal Al-Sheikh nasceu em Nínive, en 1971. É licenciada em Tradução pela Faculdade de Artes da Universidade de Mosul. Tem trabalhado na imprensa árabe como jornalista freelance, e publicado artigos e textos literários em revistas e jornais iraquianos, árabes e europeus. Para além dos romances As Portas da noite de Antioquía (Damasco 2010) e Alteração de Túmulos (Nínive Unión de Autores Iraquís, 1996), as suas obras de poesia intitulam-se Gralla – Arquivo amoroso (Athar, KSA 2015), Antes de que morra o mar, Poemas escolhidos (Bagdad 2013) e Cartas Impossíveis (Amman 2010).

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Traduções a partir de versões inglesas por Rui Cóias



 

MANAL AL-SHEIKH

 

 

 

 

-       لا زهور تنمو فوق اسمي 

عندما أموت

لا يهم أين سأُدفن

ففي العراق لا تنمو الزهور

وهنا؛

ما من عابر سبيل

يمرّ مصادفة

يضعُ وردة ًعلى اسمٍ

.لم يعد يذكرهُ لسانكَ

 

No flowers grow on my name

 

I do not care where I am buried
When I die
In Iraq no flowers grow
And here …
No straying traveller
Will leave a flower on a name
You no longer pronounce.

  

Nenhuma flor cresce em meu nome

 

Eu não me importo onde estou sepultado
Quando eu morrer
No Iraque não despontarão mais flores
E aqui …
Ninguém que passe sem destino
Deixará um flor sobre um nome
Que tu jamais dirás.  

 

 

تهويدة لمحارب صغير

-عندما تموت لن ينعاك أحد غيري..

لن أنشر اسمك ولا صورتك ولا كفنك الذي سأتولى تزيينه

هي أغنية سأغنيها فقط

وستعرف العصافير في السماء

أنكَ صرتَ لها.

 

-كان الموتُ قريباً منك جداً هذه المرة

قريباً جداً،

للدرجة التي التقط فيها صورةً معك

باتسامة أخيرة

لعدسة الحياة.

 

 

- المدينة التي انجبت صرختي الأولى..

انجبتكَ أنت ايضاً

لكنك لم تعلُ مثل صرختي

وبقيت روحكَ معلّقة

بين الشكّ واليقين

في قلبي.

 

 

 

- خرجت من بيت عامر بأشجار البرتقال

وخرجتُ من بيت دفن آخر نخلة

في ذكراه

لم نلتق يوما على الرصيف ذاته

لكننا تصادمنا كثيراً

في تقاطعات نينوى.. 

حتى ظن الحرس بنا

السوء.

 

-       في زاوية ما امرأة تنتظرك

 في كل مدينة وبلدة 

أنثى ترسم دائرة حول مبسمك

كي لا تتوه.

في كل حي تمشط بنت شعرها

بأسنان غيابك

وتتحاشى العويل

 

-       لم انتظر محارباً يوماً

رغم مقارعتي لحروب ثلاث وهزائم كثيرة

كنتٓ كل مساء تسرق من الليل نجمة

لتكون دليلك إلي

من اغتال عين الليل يومها؟



 

A lullaby for a little warrior

 

          — No one will mourn your death but me
I won’t reveal your name,
or your photo or even your coffin
which I am going to decorate
I will sing a song which tells the flying birds that you’ve become theirs. 

          — Death was too close this time
Too close to take a photo of you smiling for the last time
to life’s lens. 

          — The city that gave life to my first cry
Gave you life, too
But your soul couldn’t fly as high as my cry
It dwelt in a limbo inside my heart. 

          — You came out of a house bursting with orange trees
I came out of a house which buried the last palm tree
in his memory
We’d never been at the same roadside
Yet, our meetings at Nineveh’s crossroads upset the guards. 

          — Somewhere a woman awaits you
Everywhere a female encircles your mouth to stop you going astray
In each neighborhood a girl draws the comb of your absence through her hair
And shuns wailing. 

          — I have been through three wars and many defeats
But I have never awaited a warrior
Each evening you used to steal a star to find your way to me 
Who murdered the star that night?

  

 

Balada para um pequeno guerreiro

 

          — Ninguém vai lamentar a tua morte a não ser eu
Eu não vou revelar o teu nome,
ou o teu retrato ou mesmo o teu caixão
que eu vou ornamentar
Eu vou entoar uma canção dizendo aos pássaros que tu te tornaste um deles.  

           — A morte estava desta vez muito próxima
Demasiado próxima para tirar o teu retrato sorrindo uma última vez
para a lente da vida. 

          — A cidade que deu vida a minhas primeiras lágrimas
Também te deu vida
Mas a tua alma não pôde voar tão alto como o meu pranto
Pois ele morava em um limbo dentro do meu coração. 

           — Tu vieste de uma casa cravejada de laranjeiras
Eu vim de uma casa que enterrou a última palmeira
em sua memória 

Nunca estivemos na mesma berma da estrada
Contudo, nossos encontros inquietam os guardas na encruzilhada de Nineveh. 

          — Nalgum lugar tua mulher te espera
Em todos os lugares mulheres circundam tua boca para não deixar que te percas
Em cada bairro uma rapariga desenha o pente da tua ausência nos cabelos
E oculta seus lamentos.  

          — Eu passei por três guerras e tantas outras derrotas
Mas eu nunca tinha esperado um guerreiro
Cada noite costumavas furtar uma estrela para encontrares teu caminho para mim
E quem matou a estrela nessa noite?