Siroco: um poema de Jorie Graham
/Do lado esquerdo, Casa de Keats e Shelley, Roma, ca. 1906
Jorie Graham 
”Sirocco,” de Erosion, 1983
Traduzido por Tatiana Faia  
Em Roma, no número 26
              da Piazza di Spagna,
 ao fundo de um longo 
             lance de
 escadas, estão os quartos
             alugados a Keats
em 1820,
             onde ele morreu. Agora
 podes visitá-los,
             o pequeno terraço,
 o quarto. Os pedaços
             de papel
em que ele escreveu
             versos
 são guardados atrás de vidro,
             alguns amarelecendo,
 alguns fotocopiados ou
             mimeografados... 
 Fora da sua janela
             podes ouvir o siroco
 trabalhando 
              o invisível.
 Cada folha seca de hera
             é tocada,
retocada. Quem é o
             o espírito nervoso
 deste mundo
             que tem de rever uma vez e outra
 aquilo que já sabe,
o que é tão quente e seco
             que olha através de nós
 por nós,
             para uma resposta?
 No porto,
             no terraço
as rígidas formas
             helénicas
 das uvas surgiram.
 
             Hão-de amolecer
 até serem fracas o suficente
             para penetrar
 este mundo, traduzindo
             desamparadamente
 do belo
             ao verdadeiro...
 Qualquer que seja o espírito,
             a densidade das uvas
  
 é parte do seu modo de olhar,
             e as mãos lentas
 que fizeram esta máscara 
             de Keats
 na sua outra vida,
             e a velha mulher,
a guardiã
             do memorial
 sentada no alpendre
             abaixo do porto
 a separar o grão
             de entre os seixos
lançando-os à sua caçarola
             de ferro forjado
 Vê o que as mãos dela
             sabem – 
 são o seu hálito
             a sua língua-
-mãe, dividindo
             descartando,
 Há uma luz brincando
             sobre as folhas,
 sobre o seu rosto,
             tornando-a 
abstracta, tornando-a
             rápida 
e estranha. Mas ela
             não se preocupa
 com o que a mancha
             mudando-a, 
ela está 
             a fazer o seu trabalho. Oh como queremos
 ser levados
             e mudados,
 ser emendados
             pelas coisas em que entramos.
É assim também
             com o mundo?
 Deseja ele que nós
             o emendemos,
 luz e escuridão,
             verde
e carne? Será 
             livre então?
 Penso que o mundo
             é um elemento
 desesperado. Se pudesse
             deixar-nos-ia acalmá-lo,
recebê-lo. Por isso eis 
             o que tenho 
 de te pedir
             que imagines: vento;
 o momento em que
             o vento
  se acalma; e as uvas,
             que nada são,
 que brotam
             nas tuas mãos.

 
                     
             
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
                 
                 
                 
                