Leituras de Verão

Façamos o seguinte: pautemos as nossas férias de Verão pelos naturais delírios estivais e por um conjunto de livros que usaremos como exercícios espirituais (Pierre Hadot) ou artes de existência (Michel Foucault). Ler como ação afrodisia, mas também como prática de higiene (arrumar a banalidade) e de desenvolvimento mental e emocional. Se acharem esta indicação demasiado prescritiva, sigam os vossos impulsos, desde que leiam pelo menos 3h diárias. E aqui, sim, defendo um imperativo, como um desportista, quem pensa precisa de se exercitar, diariamente e bastante tempo. E ler e escrever continuam a ser a práticas mais eficazes para se ter uma «cabeça bem feita».

No meu caso, com 30 dias úteis de férias (não me invejem, o Estado ainda me deve cerca de 60), espero poder ler os livros infra (embora necessite de mais de 3h por dia em média). Poesia (estimular a atenção à palavra, a cada palavra,  com autores tão diferentes e tão bons); filosofia (revisitar grande parte de Jürgen Habermas de uma só vez, usando o projeto das Obras Escolhidas das Edições 70, e o celebrado This Life, para me inteirar de um pensamento que questiona imerso na vertigem do dia a dia, neste caso lerei no Kindle, o dispositivo ideal para a praia); teatro (depois de ver a peça Obstrução (Artistas Unidos), magnífica, o livro, um texto que revisita a Grécia Antiga, a que vivia dos e nos mitos, para inventar novas possibilidades de desejo, mais corpo-a-corpo); Romance (um inédito de Céline, esse homem sinistro que foi um génio da língua).