Peter Reading, Sem Título

tradução de Hugo Pinto Santos

autocarro 53 aproxima-se do término;
velho inglês, asseado e sartório,
enfarpelado num tweed Manx, cinzento de uma operação bem aparada:

Demasiadas coisas erradas, uma sugestão de Gibbon,
escolaridade e pão e roupa e maneiras,
o declínio da era, tristezas de Elgar;
demasiadas coisas erradas, coração podre e insónia,
úlcera e hipertiroidismo,
é concebível no espaço de uma vida o fim do mundo,
voo de pardal breve pelo pálio do festim.

 

Peter Reading, Evagatory, Chatto & Windus, 1992

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Peter Reading, Ésquilo

Tradução de Hugo Pinto Santos

 

Havia uma razão, mas agora escapa-me,
para eu fixar o céu, de olhos a piscar.
A sua brandura crepuscular empapa-me,
ainda que isso não o possa explicar.

Quando eu era miúdo, li que um poeta
trágico, por trágica ironia, ou por Fado,
morreu por tartaruga e águia cegueta
que lhe tomou a cachola por penedo.

Quem senão talvez um comediante avant-garde,
ou Darwin postulando a bordo do Beagle
sobre a evolução das barbatanas da tartaruga,
podia visualizar a tartaruga tão malvada
que levantasse voo e depois fosse importunar
poetas sossegados em busca do seu pesar.

Agora passo toda a vida, grave, a duvidar,
acho tudo na terra reptiliano e hórrido,
e o Céu manhoso, perigosamente pérfido.

 

Peter Reading, Collected Poems, vol. 1: Poems 1970-1984, Bloodaxe Books, 1995

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