“Um Comboio para a Lapónia”
/Como um amor antigo
o Sol toca
a barba gelada. 
Silenciosamente
parte o comboio
quase vazio. 
Quem pisará este chão
quando a neve
uma recordação? 
Que respostas procuro
na lareira 
que crepita? 
Aproximo as meias de lã
à lareira estrangeira – 
quando um abraço? 
Rodeado por silêncio
branco
a noite estende-se.
Enquanto as batatas
cozem
o peixe espera.  
Que palavras dançam
nas chamas 
desta lareira? 
Dois livros
meia-dúzia de paus
e uma noite. 
Protegido por madeira
queimando madeira – 
nem uma queixa. 
Uma chávena de café
uma lareira
e todas as distâncias. 
Sobre o mesmo galho
corvos e pombos
aproveitam o Sol. 
Na mão nua
derrete
um punhado de neve.
Nos olhos do peixe
uma vida inteira
que passa.
No fuso de gelo
o brilho inteiro
de uma estrela.
Arrefecem as brasas
nunca esquecerei
as chamas.
Iluminado pela lareira
brilha na tua pele
o meu esperma.
As crianças fazem
o boneco de neve
como se o Inverno interminável.
Neva sobre a pegada
brevemente
ninguém passou.
O bruxulear
das últimas chamas
numa noite gelada.
Não sabes quão longa
será a noite – 
aproveita a última chama.
Nunca conseguirás
reacender o que ardeu
até às cinzas.
Subir a montanha branca
descer a montanha dourada – 
anoitece.
Amanhece na montanha
encolhido chego-me
à lareira apagada.
Preparo-me para descer
a montanha –
começa a nevar.
Esta dor nas costelas
ao inspirar
porque estou vivo.
Morreu-me
um amigo – 
é tudo.
Voltei a sonhar
com o meu amigo – 
dia de sol.
Reflexo na janela
do comboio – 
que fiz dos anos?
Pyhä, Fevereiro 2021
* Título pela Tatiana Faia

 
                     
              
             
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
      
      
    
  
  
    
    
     
                 
                 
                 
                