Enfermaria 6: nova vida

Em Junho, a Enfermaria resolveu alterar o seu formato de submissões abertas. Tomámos esta decisão, numa reunião impecavelmente louca, porque nos pareceu que fazia mais sentido ter um núcleo restricto de colaboradores regulares e alguns autores convidados todos os meses, de modo a trazer alguma diversidade aos conteúdos do blogue e, ao mesmo tempo, sem contradições graves, tentar manter uma linha editorial coerente.

A todos os autores que colaboraram com a Enfermaria até aqui, a nossa gratidão, e serão sempre parte da Enfermaria.

A lista de autores que escreverão na Enfermaria é a seguinte:

 

Convidados em Setembro

Colaboradores regulares

Brasil, um dos teus grandes poetas morreu

Brasil, um dos teus grandes poetas morreu

“O Wlademir morreu esta tarde” foi o que o amigo Thadeu me disse há horas atrás. Wlademir Dias-Pino (Rio de Janeiro, 1927), um dos poetas e artistas visuais brasileiros mais interessantes do século XX e o fundador do Poema/processo, morreu esta tarde. A par de outras ideias, como a indigenista Universidade da Selva, Dias-Pino deixa por acabar a mais ambiciosa, a da Enciclopédia Visual, uma obra-arquivo composta por mais de 100 mil imagens.

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Charles Baudelaire, "Embriagai-vos" (Enivrez-vous)

Tradução: João Coles

 

"À votre guise", fotografia: joão Coles

"À votre guise", fotografia: joão Coles

Embriagai-vos

Deveis estar sempre embriagados. Aqui reside tudo. É a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que vos esmaga os ombros e vos verga para a terra, é imperativo embriagar-se sem descanso.

Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a vosso gosto. Mas embriagai-vos.

E se por acaso, sobre os degraus de um palácio, sobre a relva verde de uma vala, na morna solidão  do vosso quarto, acordardes de embriaguez diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que roda, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão: “É hora de vos embriagardes! Para que não sejais escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, a vosso gosto. 

  

In Le Spleen de Paris


Enivrez-vous

Il faut être toujours ivre. Tout est là. C’est l’unique question. Pour ne pas sentir l’horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.

Mais de quoi? De vin, de poésie, ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.

Et si quelquefois, sur les marches d’un palais, sur l’herbe verte d’un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l’ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l’étoile, à l’oiseau, à l’horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est; et le vent, la vague, l’étoile, l’oiseau, l’horloge, vous répondront: “Il est l’heure de s’enivrer! Pour n’être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise.